
A força de uma camisa
Amanhece no Rio de Janeiro, aparentemente um domingo como outro qualquer, dia de acordar e ir brincar com as crianças no Aterro. Fazer o café da manhã, comprar pão fresquinho, o jornal, quem sabe ir a feira, mas esse domingo é especial, é dia da Cidade inteira parar, dia de espetáculo, de se levantar da cama já com os nervos à flor da pele. Hoje é dia de enfrentar no Coliseu o maior rival, é dia de Fla x Flu.
Desde os primeiros minutos já se pode ver pela Cidade afora, camisas de Fluminense e Flamengo colorindo as ruas. Os jornais do dia anterior já anunciavam que teríamos um público de fazer inveja a turma da garoa.
A torcida do Flamengo embalada pela vitória sobre o líder do campeonato, já pensava na possibilidade de conquistar a tão sonhada vaga para a Libertadores, vaga a qual o Tricolor conquistou bem mais cedo esse ano, ao levar para as Laranjeiras a taça da Copa do Brasil. A intenção dos Rubro-Negros era bater mais uma vez o recorde de público, esmagando a torcida do Fluminense, que na maioria dos Fla x Flus, encontra-se em menor número.
O Maracanã está lotado, bandeiras tricolores e rubro-negras se agitam, setenta e três mil testemunhas assistem em menos de dois minutos a queda da Massa. A pequena torcida Tricolor vibra, calando a massa Rubro-negra que assiste incrédula o Fluminense abrir o placar.
Depois do gol de barriga que martela em suas cabeças a mais de dez anos, o gigante Somália lança a nova moda do Fla x Flu ... o GOL DE CANELA.
O que se sucede é uma festa Tricolor nas arquibancadas, a grande maioria se cala, sem acreditar que mais uma vez está sendo derrotada, pelo seu maior algoz no Rio de Janeiro. O primeiro tempo termina ainda com o magro placar do “Gol único de canela”.
Quando o duelo recomeça, em menos de três minutos, e a torcida Tricolor vibra novamente, sepultando de vez a esperança Rubro-negra que assiste calada ao “maestro” Thiago Neves dar o golpe final, marcando o segundo gol da partida, o seu primeiro em um Fla x Flu.
O segundo tempo serve somente como palco para a festa Tricolor, apenas para mostrar ao Mundo, o show da torcida do Fluminense, com seus cântigos, suas bandeiras e suas paródias das músicas antes entoadas pela torcida do Flamengo.
O Fluminense não é o líder da garoa, menos ainda o freguês da colina, ou o menor dos grandes Cariocas.
O Fluminense não fez sua história em uma década de glórias, detém em sua centenária existência um reinado, reinado amplamente demonstrado em um espetáculo chamado Fla x Flu. Nos momentos decisivos, o Fluminense sempre triunfou sobre a equipe da Gávea.
Assimilei desde pequeno, que a massa pode emocionar aos comentaristas mais sensíveis, pode empurrar os seus atletas, pode amedrontar equipes mais frágeis, mas a massa não entra em campo, em campo são 11 contra 11, e a única arma ao seu lado é uma camisa.
Aprendi ao longo dos Fla x Flus que o que faz a diferença num duelo como este, não é o tamanho de uma torcida e sim a força de uma camisa, camisa essa nas cores verde, branca e grená.

